A salvação em Hebreus
A carta aos Hebreus constitui uma das primeiras amostras de defesa (apologética) da fé cristã e sua superioridade frente ao judaísmo; e é por isso que ao largo de seu contexto contrapõe a aparência e a sombra do provisório e terreno da lei mosaica, frente à verdade celestial e eterna de Cristo e a Igreja. Esta carta tem que ser analisada em seu verdadeiro contexto. Leiamos Hebreus 5:11-14:
"11 A esse respeito temos muitas coisas que dizer e difíceis de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir.12 Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido.13 Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança.14 Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal".
Estes últimos quatro versículos do capítulo cinco de Hebreus falam de crentes imaturos, crianças espirituais, aos quais não se pode alimentar senão com leite, com os rudimentos da doutrina da salvação e não com alimento sólido, porque são crianças. Há crentes que passam toda a vida, digamos, no primário, quando deveriam ser já mestres de outros, e não avançam, não saem dessas primeiras etapas dos seis rudimentos da graça que estão enumerados nos dois primeiros versículos do capítulo 6, que são o fundamento da vida cristã, a saber: (1) o arrependimento de obras mortas, (2) a fé em Deus, (3) a doutrina de batismos (ablução, lavagem), (4) a imposição de mãos, (5) a ressurreição, e (6) o juízo eterno. Não podemos ficar nessa etapa da graça; devemos crescer na palavra de justiça, no conhecimento e a vida do Senhor; devemos colaborar com o Senhor na edificação da casa de Deus; devemos trabalhar com o Senhor na preparação do reino dos céus. O Senhor é o que trabalha em nós em nosso crescimento espiritual, em nossa maturidade, mas não faz se nós não cooperamos com Ele. Note que o capítulo 6 conecta com um "por isso". Leiamos o contexto de Hebreus 6:1-8:
" Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito, não lançando, de novo, a base do arrependimento de obras mortas e da fé em Deus,
2 o ensino de batismos e da imposição de mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo eterno.3 Isso faremos, se Deus permitir.
4 É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo,5 e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro,6 e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia.7 Porque a terra que absorve a chuva que freqüentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus;8 mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada ".
Aqui confirmamos que o autor fala a cristãos em processo de maturidade, que devem estar deixando os rudimentos e que devem avançar e adentrar-se nas coisas profundas da vida no Espírito; isto encerra o participar com o Senhor em suas realizações, e alimentar-nos Dele para um normal crescimento. Vemos, pois, que aí o tema não é a salvação; do que trata aí é de progredir na maturidade espiritual e não o retrocesso.Se alguém que uma vez tenha sido iluminado e gozado do dom celestial (Cristo), participante do Espírito Santo e dos poderes do mundo vindouro (poderes do reino milenar, que são os dons e poderes do Espírito Santo), se recair e voltar atrás, não tem necessidade de voltar a por o fundamento, crendo outra vez no Senhor Jesus, nem de arrepender-se de novo de obras mortas, pois não pode ser outra vez renovado para arrependimento; já tudo isso se fez uma vez e para sempre.Quando cremos em Cristo, Deus nos perdoou, nos justificou, nos deu vida eterna, nos deu sua paz, nos deu segurança de nossa salvação. Então, o que acontece com essa pessoa? Pois sensivelmente que, em vez de dar fruto ao ser alimentada e cultivada por Deus, deu espinhos e abrolhos; então essa pessoa é reprovada, eliminada do reino, pois os espinhos e abrolhos que produziu devem ser queimados. Essa pessoa não perece para sempre, mas sofrerá o dano da segunda morte. Alguém pode alegar contradição usando o texto de Hebreus 10:26-29, que diz:" 26 Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados;27 pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários.
28 Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés.29 De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? ".
Aqui mostra o caminho de um apóstata judeu. Levemos em conta todo o contexto da carta aos Hebreus que, como seu nome indica, é dirigida aos cristãos que antigamente professavam a religião judaica, com seus sacrifícios de animais, tudo isso figura e sombra da verdade em Cristo; eles vinham assistindo a suas reuniões nas sinagogas. Onde se reuniam depois que se convertiam? Nas reuniões da igreja, pelas casas com os irmãos. A carta aos Hebreus foi escrita precisamente por causa dos judeus que haviam se convertido ao cristianismo, os quais muitas vezes não tinham estabilidade; estavam cheios de temores pela continua intimidação, ameaças e acusação a que eram submetidos pelos líderes das sinagogas, e inclusive pelos parentes e achegados; de maneira que alguns temiam que os vissem nas reuniões da igreja, e muitos estavam ao ponto de regressar ao judaísmo.
Ao analisar cuidadosamente toda a carta aos Hebreus, e em particular os capítulos 9 e 10, vemos que o Senhor Jesus com Seu sacrifício na cruz aboliu os sacrifícios do antigo pacto, e nos abriu um caminho novo e vivo para entrar no Lugar Santíssimo, que agora não se trata do templo de Jerusalém, figura do verdadeiro, senão o Lugar Santíssimo dos céus, onde está o Senhor sentado; porque Seu único sacrifício é válido para sempre, em contraste com os sacerdotes, que estão de pé dia após dia, oferecendo sacrifícios continuamente, que nunca podem tirar os pecados. Quando o versículo 25 diz que "não deixando de congregar-se, como alguns tem por costume", significa que o irmão hebreu que chegasse a deixar de congregar-se nas reuniões cristãs, equivalia voltar voluntariamente às reuniões do judaísmo, ao antigo pacto, à sinagoga; e isso é o que significa "pecar voluntariamente" do versículo 26, desprezando assim a verdade do novo pacto e voltando aos sacrifícios de touros e cordeiros machos que, na economia de Deus, já não podem tirar os pecados.Vemos, pois, que o contexto fala da verdade, que é todo o revelado na carta; fala do novo pacto, em comparação com o antigo, que era a sombra; fala do sangue do Senhor, em comparação com o sangue dos animais; de maneira que se um irmão hebreu voltasse ao judaísmo, já não restaria mais sacrifício por seus pecados, pois os antigos sacrifícios já ficaram sem valor; guardar certos dias e preceitos ficou sem valor; preferir certos alimentos ficou sem valor; reunir-se na sinagoga ficou sem valor; preferir certos edifícios chamados templos e certos lugares específicos, ficou sem valor. O válido está em Cristo, dentro da Igreja redimida, o Corpo de Cristo.Levemos em conta que todos os sacrifícios do antigo pacto foram substituídos pelo único sacrifício de Cristo; de modo que o sacrifício pelos pecados cessou para sempre; já não há mais sacrifício. Alguém que voltasse ao judaísmo, já não teria mais sacrifício por seus pecados, e o que lhe esperaria seria um terrível castigo dispensacional. No caso de que sua conversão tenha sido autêntica, essa pessoa não perde a salvação, porquanto segue fazendo parte da Igreja, conforme o versículo 30. O que um judeu, depois de haver crido em Jesus, voltasse ao judaísmo e voltasse a confiar nos sacrifícios dos animais, significava pisotear ao Filho de Deus, e haveria tido como comum o sangue de Cristo. Consideramos que se alguém, sendo crente, se volte a sua antiga religião e a seus ídolos, terá algum forte castigo dispensacional.
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